
DEXTER - A MÃO ESQUERDA DE DEUS
24/04/2011 23:09
Perito de dia, assassino de noite. Essa era a rotina de Dexter, trabalhar em cenas do crime, conviver em sociedade, matar alguma pessoa. O livro começa com Morgan assassinando o padre Donovan – precisa realmente dizer o que a vossa santidade fez? Acho que você já sabe do que eu estou falando... - e o despejando no mar. Até aí a vida de Morgan estava sem grandes problemas, o que nos dá total liberdade de começar a conhecer esse curioso lobo que veste pele de cordeiro, e que tem um passageiro um tanto quanto interessante no banco de trás do carro que ele chama de Cérebro.
Irônico, sarcástico e realista, Dexter pensa como uma máquina, e sabe exatamente como agir, sabe como falar e com quem falar. Ele engana tão bem que, por vezes, passa a ser aquele tipo de pessoa conformista e nem aí pra vida, como também passa a idéia de que é extremamente gentil e bem humorado. De fato, ele é alegre, mas de um jeito bem diferente. O interessante sobre como Morgan se relaciona com os demais a sua volta, é que ele na verdade estuda as pessoas, estuda o comportamento delas, afinal elas são guiadas por seus sentimentos e ele, convenhamos, não possui nenhum.
“Eu sou uma pessoa inesgotável. Tentei seguir plano de Harry e me envolver com outras pessoas, ter relações e até (nos momentos mais idiotas) gostar de alguém. Mas não funciona. Tem alguma coisa errada ou faltando em mim.”
No entanto, as coisas mudam quando um novo assassino em série invade a quente Miami matando prostitutas e deixando seus pedaços espalhados por toda a cidade. O jeito de matar é o mesmo e Dexter começa a ser perturbado todas as noites com sonhos estranhos e que sempre tem alguma conexão com a próxima lembrancinha deixada pelo mais novo amiguinho do perito. Sim, pela primeira vez em anos, o pequeno Morgan não se sente sozinho em sua monstruosidade.
Continuar a contar a história sem dar spoilers é bem difícil, mesmo porque Dexter - A Mão Esquerda de Deus é o tipo de livro que te prende até não poder mais, ele te drena e quando você percebe já amanheceu o dia e você está firme e forte virando páginas e comendo letras atrás de letras. Sem nem se preocupar com o horário ou com o fato de que tem que ir trabalhar, essa parte da sua vida te frustra porque te obriga a parar de ler. Vai por mim, não é legal.
Jeff Lindsay consegue te fazer se apaixonar por Dexter Morgan, te faz querer ser amigo dele e apoiá-lo nos momentos de dificuldade, ele é exposto até a alma para nós e mesmo com o seu “defeito” você se sente atraído por ele. Você acompanha e presencia seus momentos de dúvida, suas fraquezas e conhece cada vez mais o funcionamento de um ser humano tão intrigante. É como se fosse amor à primeira vista. A construção dos personagens também foi muito bem feita, não é só Dexter quem merece a glória. Só porque ele é o protagonista não significa que ele tem que ser o cara mais legal do livro todo. Vocês obviamente se lembram mais do Chapeleiro Maluco e do Gato de Cheshire do que da própria Alice, e eu não estou me referindo somente a adaptação cinematográfica feita por Burton.
Os demais componentes do enredo da obra de Lindsay tem suas características próprias: LaGuerta é a detetive manipuladora e latina que tenta, a todo o custo levar Morgan para a cama – a passagem do cubículo é memorável, tanto pela sequência de acontecimentos, como pela ingenuidade de Dexter a respeito de certas coisas -, Deborah é a policial durona e, ao mesmo tempo, frágil, que tenta a todo o custo ser promovida e ter reconhecimento que merece; e o Sargento Doakes odeia a tudo e a todos – e eu o odeio de volta.
Por: Beatriz Paz / https://www.nerdssomosnozes.com
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